MARION ZIMMER BRADLEY SOBRE MULHERES ESCRITORAS.

     Esse texto foi escrito pela Marion na introdução The Keeper's Price. Achei bacana por tratar sobre a visão dela sobre novos escritores, como ela gostava de apoiá-los e sobre visões feministas e femininas de mulheres atuando no universo da ficção científica. The Keeper's Price é uma das antologias de Darkover a primeira que pus os olhos na vida. Delícia!

INTRODUÇÃO O PREÇO DO GUARDIÃO

Marion Zimmer Bradley.
Tradução Livre: Waldir Ramos Neto.

          Um dos maiores equívocos das jovens escritoras no momento de buscar um meio de publicar seu trabalho é esse: pensar no editor como um indivíduo duro, cruel, gélido e inquisidor, que  fica fazendo piadas sádicas antes de rejeitar os manuscritos com desculpas escorregadias e impessoais e que insiste que seus escritores devem ter um "grande nome" antes que ele seja condescendente em ler algo que elas tenham submetido, e de uma forma geral colocar todos os obstáculos possíveis no caminho da pretensa jovem escritora.
          Há muitas coisas erradas com essa imagem do editor profissional, a coisa não é exatamente assim. Eu mesmo como editora que sou, durante um período de anos, e também por ter trabalhado com muitos editores - inclusive o editor da DAW books, Donald A. Wollhein - posso dizer que a maioria dos editores tem mantido seu próprio sentimento pessoal de apreciação por boas obras de ficção científica, e que gastam boa parte de sua vida profissional na busca por um novo e bom escritor. Porque não importa quantos bons escritores o editor possa ter em seu (ou sua) grupo de autores estáveis, nunca é possivel depender apenas de certos "nomes". Autores morrem. Eles adoecem e perdem prazos.  Eles se retiram por um ano para uma viagem para a Europa, Africa, Katimandu ou monastérios em Trappist. Eles tem bebês, ou decidem passar os próximos três anos revendo o romance do Grande Americano. Por esses ou outros motivos, o editor fica sem nada para publicar, e quando ele não publica, não faz dinheiro algum.
        E então o editor passa boa parte do seu tempo, "revirando pedras" na busca por encontrar e encorajar novos escritores. E uma dessas pedras, reviradas por Don Wollhein foi Starstone, uma revista apócrifa de ficção sobre Darkover escrita pelo grupo Friends of  Darkover. Eu sempre incentivei novos escritores a escreverem no meu mundo. Acho divertido. Além disso, como eu poderia ler histórias de Darkover sem esbarrar no problema de ter de escrevê-las?
      Don sabia que eu havia desenvolvido o hábito de publicar, em Starstone, pequenos contos de ficção em Darkover, que eu considerava curtos demais, ou fragmentados demais para desenvolver um romance. Uma vez ele falou comigo sobre fazer uma antologia de curtas histórias de Darkover, e quando falei pra ele que simplesmente essas pequenas histórias não eram suficientes para editarmos um livro, ele sugeriu que eu incluísse o melhor das pequenas histórias escritas pelos Friends of Darkover, alguns dos quais apresentaram um enorme talento.
      Outro equívoco sobre editores profissionais do campo de ficção científica e fantasia é que eles tem implicância com escritoras mulheres. Isso é outro equívoco, tão exasperador que eu tenho sido conhecida por chamar de mentirosa, na cara, qualquer mulher que repita isso pra mim.
      Uma jovem mulher que afundou ao nível de publicar por vaidade se desculpou dizendo para mim (para mim!) (uma das maiores escritoras de ficção científica de todos os tempos): " Bem, eu não tive escolha. Todo mundo sabe que mulheres não podem publicar ficção científica ou fantasia." E isso, acredite ou não, nos dias de Ursula Le Grim e Anne McCaffrey.
      Bem, mesmo quando noventa por cento dos leitores de ficção científica eram homens, haviam várias mulheres que editavam e escreviam ficção científica e nunca fizeram nenhum segredo acerca de seu sexo. Weird Tales foi habilmente editado por muitos anos por Dorothy McIlwraith, Famous Fantastic Mysteries por Mary Gnaedinger e Amazing Stories, por muito tempo por Cele Goldsmith. Leigh Brackett, Catherine Moore, Wilmar Shiras e Judith Merril - para não mencionar eu mesma - estavam todas escrevendo antes da explosão do feminismo, nos anos trinta, quarenta e cinquenta. E os leitores, cem por cento homens, também não reclamaram de nenhuma delas.
     E atualmente (anos 70 ?) Don Wollhein tem sido escutado, em conversas particulares, que dois em três dos novos bons escritores são mulheres!
      No entanto, não era minha intenção que essa antologia se tornasse uma coleção de ficção feita  por mulheres.
      Eu me tornei um pouco impopular nos círculos feministas, por me negar persistentemente em ser taxada como uma "escritora mulher" , ou por não colaborar contando minhas queixas contra o mundo das publicações, supostamente dominado por mãos masculinas ou não me identificar com os extremos do feminismo. Apesar de me considerar como uma descendente de Catherine Moore e Leigh Brackett, devo muito também a Ted Sturgeon e E. C. Tubb e Rider Haggard, e Darkover em si foi enormemente influenciada pelos mundos de A. Merrit e por Islandia de Austin Tappen Wrigth.  Eu sou velha o suficiente para lembrar a luta de mulheres escritoras e poetas para se livrarem dos rótulos de "autoras" ou "poetizas". Autores e poetas não tem gênero. Minha filha adolescente, no início de sua carreira de ator (é ator mesmo não atriz) é igualmente incomodada pelas tentativas de chamá-la  de"atriz" (o que ela deveria reconhecer como "pessoa que atua" eu nem me atrevo a supor, mas esse problema não acontece somente aqui).
      Eu resolutamente me recuso a aprovar esse tipo de segregação, mesmo quando camuflado e racionalizado como "espaço para as mulheres".
      Mas, ironicamente, essa é uma antologia composta inteiramente de ficção feita por mulheres. Eu esperava que pelo menos meu irmão Paul Zimmer (que fez algumas das melhores cenas de A Espada Encantada), ou meu filho David Bradley, que é editor de uma pequena revista de fantasia semi-profissional poderiam contribuir para essa antologia, mas ambos estavam muito ocupados em seus próprios projetos.
       E então me lembrei que com mais de uma dúbia exceção, a maioria dos contos de Jornada nas Estrelas (isso feito pelo mais puro amor à série, pela imprensa amadora,  e a maioria desse material muito melhor, na minha humilde opinião, do que a coisa comercial veiculada por Alan Dean Foster ou pelo mais recente James Blish) foram também escritos por mulheres. E isso me deu uma dica do porque o fenômeno da ficção de Darkover é, em geral, um fenômeno feminino.
       Mulheres, eu acho, não são encorajadas, na nossa sociedade, a criar seus próprios mundos de fantasia. A sociedade há muito tempo tem um empossado interesse em limitar a imaginação das mulheres àqueles papéis os quais a sociedade tem decretado para elas: enfermeiras, mães, professoras. Menos de cem anos atrás, era ainda uma questão amargamente debatida se a educação para mulheres poderia criar algum outro propósito além de criar nas mulheres, uma expectativa por carreiras as quais, ao longo do tempo e do curso da natureza, deveriam ser negadas a elas. Somente uma mulher que desejasse renunciar a sua "vocação feminina" de esposa e mãe, e se tornar um indesejável estereótipo de mulher de negócios (de bruxa velha e feia, estraga-prazeres, a velha donzela, ou na melhor das hipóteses, a assexuada e enrustida freira) poderia ter qualquer tipo de carreira independente.
      E, apesar do hábito de ler romances ter sido há muito rebaixo a um vício chocante, especialmente para as mulheres, quando elas eram autorizadas a ler de uma maneira geral, uma categoria especial de ficção foi construída especialmente para mulheres: os livros românticos e domésticos. Nessas histórias, as mulheres eram mostradas como preceitos e exemplos de que o final feliz para toda mulher era encontrar o Senhor Certinho, casar com ele, e esquecer todas suas outras aspirações e sonhos.
    Mesmo nos livros em que as mulheres tinham carreiras interessantes, Sue Barton, Student Nurse, é um clássico da minha própria infância - o final feliz de Sue foi entrar em um romance com um jovem médico bacana e então casar com ele. A partir disso, fui sarcástica ao dizer que ela deveria ter se salvado do problema de aguentar todas aquelas comadres.
    Ficção científica, claro, não era considerado como uma leitura adequada para mulheres.  Para os garotos eram dados livros de aventura, garotas ganhavam histórias românticas sobre outras garotas que preenchiam seu tempo com suaves e divertidas aventuras triviais até que encontrassem o homem certo. Talvez a coisa mais positiva que pode ser dita sobre esses "livros de meninas" é que as garotas mais inteligentes e agressivas não gostavam muito deles.
    Eu, por exemplo, fui completamente atordoada por eles. Assim como Leigh Bracket,  que foi pioneira na ficção de aventuras espaciais com mulheres.
   Leigh tem sido acusada de "escrever como um homem e um homem impregnado de machismo", mas isso foi um ato de rebeldia da geração dela, tomando alguma coragem; muitas mulheres que desejavam viver da sua escrita, teriam escrito romances banais e histórias de amor, enquanto Leigh escreveu, como ela me disse uma vez, "o tipo de coisa que eu mesma gostava de ler".  Mulheres apareciam pouco nesses livros, porque, nos livros da infância de Leigh, e na minha, alguns anos mais tarde, as mulheres raramente faziam algo interessante; Leigh e eu também não estavámos interessadas em produzir alguma filha-de-um-cientista-louco para ser resgatada pelo herói e casar com ele mais tarde. Leigh disse uma vez: "Se eu tinha uma mulher numa história, ela estava fazendo algo e não se preocupando com o preço dos ovos ou com quem está amando quem."
   Mas Leigh e eu éramos as exceções. Nós tínhamos que escrever, mas não íriamos escrever nenhuma conversa oca romântica. Para todo mundo como eu, ou Leigh ou C. L. Moore, ou Juanita Coulson, haviam dúzias de mulheres que aprederam a fazer o que seus pais diziam, ocultavam seus sonhos e liam os livros apropriados a seu gênero e situação de vida.
  Mas então, para toda uma geração de garotas, Jornada nas Estrelas, na televisão, abriu o mundo da ficção científica. E elas tinham um novo mundo para escrever a respeito.
  Garotos que queriam escrever, geralmente construiam seus próprios mundos, frequentemente começando com um conjunto de soldados de brinquedo ou cadetes espaciais. Garotas não eram encorajadas a fazer isso. Eu fiz isso, mas eu vivi numa fazenda, isolada de pressões de grupos adolescentes, e sem dúvida, eu era o que os psicólogos chamariam de "inadequada socialmente", o que era uma maneira educada de dizer que eu, de alguma maneira, escapei das pressões e lavagens cerebrais, que diz a uma garota que suas principais "tarefas para se desenvolverem", eram relacionadas à dança, encontros romänticos, cosméticos, e rituais adolescentes semelhantes. (Não muito tempo atrás, ler que alguma cantora popular de rock tivesse se afundado no álcool e nas drogas e eventualmente morrido, era sentimentalizado como se essa cantora tivesse começado quando adolescente quando "sequer havia passado pelos bailes de debutante", eu olho espantada, imaginando porque alguém iria querer ir ao maldito baile de debutante a menos que seus pais ou iguais o tivessem importunando para fazer isso). Minha própria juventude foi alegre e livre de namorados ou preocupações com a falta de "encontros"; minhas próprias crises adolescentes (e tive muitas) era por ter falhado em conseguir participar das operetas da escola, ou por não fazer um bom solo nos concertos de coral - eu tinha uma voz boa, mas não muito marcante - e a insistência dos professores e psicólogos de que eu deveria escrever menos, dançar mais,  e tentar fazer amigas entre as garotas que pareciam não ter interesse em nada além de danças, penteados, e o tipo de filme que eu chamava de "bosta romântica". Eu passei minha adolescencia lendo, decorando peças de ópera e escrevendo romances inacreditavelmente ruins, no começo uma imitação de WalterScott e BulwerLytton, depois, quando descobri a ficção científica, uma imitação de Henry Kurtner e A. Merrit. Para fazer isso, inventei meu próprio mundo de fantasia, que eventualmente se tornou Darkover. E quando comecei a vender e era questionada se tinha algum problema, enquanto mulher, entrando num "campo masculino", minha reação era desdenhosa.

      " Não. Nunca encontrei um editor que se preocupou se eu era macho ou fêmea, ou um chipanzé que aprendeu a escrever, desde que eu contasse uma boa história."
    Só muito recentemente, comecei a perceber que eu tinha simplesmente dado um jeito de escapar,  por uma combinação de sorte, indiferença e cabeça-dura, de uma lavagem cerebral na qual noventa por cento das mulheres estavam inseridas. Eu sempre acreditei que minhas camaradas mulheres poderiam ter evitado isso também - "eles não podem fazer lavagem cerebral em você se você não dar ouvidos!" - mas agora não estou mais tão certa disso.
     Mas minha experiência ainda não era universal. Não até as mulheres verem Jornada nas Estrelas, que fez com que elas começassem a se identificar, assim como crianças pequenas o fazem, com os heróis e heroínas daquele universo. Elas eram muito velhas para vestir orelhas vulcanas ou camisetas da Enterprise, ou brincar de ser Spock , Kirk, Uhura e seus amigos e então elas escreviam histórias sobre isso. E, numa onda de ficção científica amadora, completamente a parte de qualquer fenomeno de histórias de ficção científica, essas histórias, de alguma maneira foram publicadas em revistas de ficção científica amadoras. Haviam centenas delas, ou deixe-me arrumar isso, haviam milhares, mas no entanto só li algumas centenas.
     E quando elas estavam saciadas com Jornada nas Estrelas, muitas delas se voltavam para Darkover.  Eu não concordo com Jackeline Litchenberg que Darkover é apenas uma versão avançada de Jornada nas Estrelas para adultos. Eu nunca fui uma grande fã de Jornada nas Estrelas, e até que eu conhecesse Jackeline, não sabia nada do fenômeno Jornada nas Estrelas, e então aprendi muito.  Jackeline, independente como eu, uma dessas que criou seu próprio mundo de fantasia quando adolescente e depois transformou isso numa série profissional enquanto adulta, usou os fãs de Jornada nas Estrelas, calculadamente, (como eu utilizei os fanzines feitos a partir de ficção) como uma maneira de aprender seu ofício e ter seus primeiros textos publicados; ela escreveu uma série de romances sobre Jornada nas Estrelas. Então, tendo encontrado seu meio e aperfeiçoado seu ofício, ela começou a falar com sua própria voz e construir seus próprios personagens e então publicou dois romances e vendeu três outros, ambientados no próprio mundo dela.
    E então estou lisonjeada e honrada, pois muitas jovens mulheres talentosas estão agora usando o universo de Darkover como um passo inicial para encontrar suas próprias vozes na escrita.  Na verdade, boa parte do que é escrito na ficção amadora de Darkover não é muito bom. Muitas das músicas amadoras que foram escritas para os poemas e canções em O Senhor dos Anéis de Tolkien também não eram muito boas. Mas, falando sobre os versos de Tolkien eu disse (muito antes de Darkover se tornar uma série conhecida) que pra mim a coisa mais surpreendente dos versos de Tolkien é que faziam com que muitas, muitas pessoas escrevessem música! Quase todo mundo, parecia pra mim, que tinha alguma vez pensado em escrever música, se sentiu compelido a colocar um ou outro verso de Tolkien em uma montagem original da música.
     E então estou admirada e modesta com a noção de que o exato conceito de Darkover poderia encorajar tantas jovens mulheres, antes desarticuladas, a tentar suas próprias vozes narrativas, ao criar novos personagens e situações em Darkover. No jargão do feminismo, poderia-se dizer que Darkover deu para elas um "espaço seguro para tentar desenvolver a criatividade".  Cercadas por um mundo já pronto e feito para elas, elas poderiam se concentrar nos personagens e nos incidentes e não precisariam construir todo um mundo por elas mesmas.
     E algumas dessas mulheres, tendo aberto suas asas no ar rarefeito de Darkover, continuaram escrevendo depois outras coisas. Outras usaram Darkover e continuam usando, para explorar as dimensões de suas próprias visões desse mundo, ao mesmo tempo aperfeiçoando sua arte e técnica.
     E então essa antologia, parcialmente em reconhecimento ao talento delas, e parcialmente em reconhecimento ao meu débito com elas.
      Pois a maioria dessas mulheres escolheram escrever histórias curtas. Agora, nunca penso em mim mesma como uma escritora de histórias curtas. Minhas primeiras histórias curtas não eram muito boas.  Sempre me senti mais a vontade com as grandes peças e romances.
      Mas é sempre mais fácil dizer a outra pessoa como fazer algo do que fazer esse algo você mesma.  (Elas quando podem, fazem; quando não podem ensinam). E, através da leitura das pequenas histórias sobre Darkover escritas por minhas jovens fãs, e as vezes criticando-as e tentando explicar o que estava errado com elas, eu tenho de alguma forma aprendido a escrever pequenas histórias por conta própria,  e tenho sido encorajada a por a mão nessa forma de história que são melhores e mais sutis.  As quatro históiras nesse volume estão, eu acho, dentre as melhores histórias curtas que já escrevi, e elas foram escritas porque, depois de ver o tipo de erro que eu podia reconhecer nas histórias das outras pessoas, eu podia evitar esses erros em minhas próprias histórias. Tenho aprendido tanto com meus fãs, quanto espero que eles tenham aprendido comigo sobre a arte da escrita.
      Alguns críticos tem sido perturbados pela possibilidade de eu estar explorando minhas jovens fãs, ou roubando suas idéias, ou utilizando seu trabalho em meus futuros romances. Não, exceto pelo fato de que tudo que eu leio, de alguma forma se acomoda em meu subconsciente, e então vai para o "mar de mudanças" que transforma idéias cruas em ficção. Mas isso provavelmente aconteceu com histórias de Roger Zelzani - ou Agatha Christie - ou Pearl Buck.
       Claro que eu utilizei idéias de meus jovens fãs, assim como dei idéias a eles. Mas roubar suas idéias - eu tenho idéias próprias suficientes. Se suas idéias encontraram um lugar na minha mente, isso se deu da mesma forma que eu "peguei" a idéia para meu livro Salvadores do Planeta através da leitura de um estudo clássico sobre personalidades múltiplas, como uma atribuição da minha aula de psicologia; ou eu posso ter pego alguma idéia da National Geographic ou Scientific American que são as revistas que folheio quando estou com pouca inspiração. The Starman of Lyrdis de Leigh Brackett era um dos meus livros favoritos, era baseado na idéia que apenas uma raça de homens poderia viajar pelas estrelas, enquanto outras eram limitadas ao mundo em que haviam nascido. Eu li essa história, amei ela, e então certa noite estava cogitando e pensei: "Sim, supondo que apenas uma raça tivesse acesso ás viagens espaciais e se mantivessem todas as outras em seus planetas, porque os limites da Terra não suportariam viagens ao espaço devido a limitações físicas, como no livro de Leigh, - mas supondo que a única raça que suportasse a viagem ao espaço estivesse mentindo a respeito, para sustentar seu monopólio? Foi assim que meu romance The colors of Space (Esse parece ser um livro raro, nunca vi uma edição brasileira) nasceu. Mas não tem nada a ver com Starman de Leigh. Assim como O sol Vermelho não tem nada a ver com Baby is Three de Ted Sturgeon. No entanto eu comecei com a idéia de Sturgeon, de uma conspiração humana com telepatas intimamente ligados.
    E é por isso que não me importo com outros escritores escrevendo sobre Darkover, e ao mesmo tempo não tenho nem vontade e nem necessidade de explorar suas idéias. Se alguma vez eu utilizei algum conto de fã, teria sido tão alterado e transmutado através da viagem por meu próprio espaço pessoal de sonhos, que mesmo a inventora nunca reconheceria suas idéias, de tão alienígena que isso soaria quando eu surgisse com ela.
    E também não me sinto ameaçada por histórias que não são condizentes com minha visão pessoal de Darkover. Para mim, qualquer história de Darkover escrita por outra pessoa, são supostamente ambientadas num mundo "paralelo" ao "meu" Darkover, ou em um dos universos paralelos que podem ser bem próximos do meu Darkover, ou muito diferente, conforme queira o jovem escritor.
   Porque, num senso muito real, eu me considero não como a inventora de Darkover, mas como sua descobridora. Se outros desejam brincar com meu mundo de fantasia, quem sou eu para fechar os portões e de uma forma grosseira exigir que eles construam seus próprios mundos? Se eles forem capazes de fazer isso, um dia o farão. Enquanto isso, se eles desejarem escrever sobre Darkover, eles escreverão. Toda a exclusividade egoísta de Conan Doyle (que foi tão longe ao ponto de exigir que a antologia póstuma As desventuras de Sherlock Holmes  de Ellery Queen, um volume muito refinado sobre contos de Sherlock Holmes, fosse retirado do mercado e nunca mais fosse reimpresso, o que negou aos amantes de Sherlock Holmes uma maravilhosa experiência de leitura) não impediu que os amantes de Sherlock continuassem escrevendo suas próprias histórias e secretamente as partilhassem. Por que eu deveria negar a mim mesma o prazer de ver essas jovens escritoras aprendendo a fazer o ofício, por um breve tempo, fazendo o meu ofício por mim?
   Ou, olhe para a questão dessa forma: Quando eu era uma garota, eu era grande amante de jogos de "fingir", mas depois dos meus nove ou dez anos, não encontrava ninguém para jogar comigo. Meus amigos cresceram e se cansaram dos jogos; eu nunca me cansei. E agora eu tenho uma porção de fãs, e amigos que virão ao meu jardim mágico e jogarão os velhos jogos de "fingir" comigo.

Longe, bem longe em algum lugar no meio da Galáxia, e cerca de quatro mil anos no futuro, há um mundo com um grande Sol Vermelho e quatro luas. Você quer vir e brincar comigo lá?

Marion Zimmer Bradley.




(Putz, ela era muuuuuuuuuuito fofa. Amo.)




Texto Original:
http://www.amazon.com/dp/B007TYE5UQ#reader_B007TYE5UQ








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