GRAVELIGHT

É.... gostei!

Fechando a série "Light" da Marion, esse livro sutilmente é um ponto que costura toda a obra de Marion Zimmer Bradley, já que Verdade Jourdemayne, umas das protagonistas é reencarnação da Adsharta lááááá da Queda de Atlântida, milênios no passado, e Wycherly Musgrave Ridenow (um dos personagens mais loucos e bacanas que já vi da Marion) dá uma dica da origem do clã darkovano Ridenow - milênios no futuro!

Escrever sobre a obra de Marion Zimmer Bradley é para mim uma tarefa prazeirosa e que demanda um pouco de pesquisa, mas acima de tudo é algo prazeiroso, já que me sinto um dos maiores conhecedores da obra aqui no Brasil. Marion é quase uma mãe pra mim, já que me acompanha desde os dez anos de idade. Li e reli e ainda tenho muito o que ler...

Gostei de Gravelight, um dos últimos livros escritos pela Marion, por que além de ser esse interessante ponto de ligação de toda a obra, é também um livro único (dentro do genial estilo de Marion Zimmer, que escreve cerca de trinta livros interligados e ao mesmo tempo independentes), um livro que tem um ritmo de suspense e thriller. Foi um dos livros com mais cara de filme, tem um quê de filme de suspense....

Um dos pontos fortes, a meu ver, é o personagem Wycherly (Ridenow) Musgrave. No auge de sua carreira, Marion deu mais um show de genialidade ao criar um personagem extremamente humano e complexo.   E com características até então inéditas em sua obra. Riquinho mimado e alcolista, Wycherly carrega um pouco do dom dos poderes mentais, que usa para abusar das pessoas e manter seus vícios.  O livro trabalha a questão da adicção, mostra a mente de Wycherly sofrendo pra tentar se livrar do vício, como ele vê os programas de recuperação de adictos (o que mostra também um pouco da visão da própria Marion - Wycherly achava que o Poder Superior dos programas de recuperação era algo hipócrita e também se acomodava em cima da idéia de que um adicto não é curado nunca... senti uma crítica subjacente da Marion à forma como a recuperação de dependentes químicos é encarada, acho que a escritora quis mostrar que existem outras formas de cura, mais espirituais...). A irmã de Wycherly aparece nos outros livros da série Light e é uma médium, assim como ele. Só que a irmã é equilibrada, segue uma linha de Magia Branca. Já Wycherly é um revoltado que acabou surtando com seus poderes e com a bebida. Ele carrega a morte de uma moça dentro da cabeça, uma moça que ele acredita, durante todo o livro, ter assassinado. Os conflitos internos mostrados são excelentes, porque ele não entende o que se passa e sente a fúria crescer dentro dele e então luta para se controlar e se embriaga para esquecer...

Outra personagem principal e também bacana é Sinah Dellon, uma atriz, também telepata que faz parte de uma antiga linhagem de bruxas. Sinah usa sua telepatia para agradar seu público e criar papéis mais convincentes, mas resolve se mudar para Morton's Folk, um fim de mundo assombrado no interior dos EUA, onde existia uma propriedade que era herança de família. Lá em Morton's Folk nada acontece, mas há um antigo sanatório abandonado com emissão de energias sinistras.... Sinah vive com o conflito de ser uma telepata e não saber como lidar com isso. Além disso, ela sentia toda sua linhagem, todas as mulheres que haviam sido suas antepassadas dentro da mente, através de sonhos e visões e essas personalidades começam a dominar a vida de Sinah.

Verdade Jourdemayne, Dylan Palmer e mais dois estudantes do Institututo Thagkanik (Universidade de Parapsicologia e Investigações Paranormais) resolvem ir a Morton's Folk para investigar o sanatório e descobrir a origem de vários desaparecimentos que eram registrados no local. Durante as investigações Verdade descobre que existe um portal sidhe (um portal construído com magia antiga) dentro do sanatório e que esse portal emitia uma forte energia negativa que causava os acidentes no local. Descobre também que o portal só pode ser fechado por uma herdeira da linhagem de guardiãs e Sinah Dellon é essa herdeira, mas será que Verdade irá convencê-la facilmente a fechar o portal?

Sinah se apaixona por Wycherly, e Wycherly um machista telepata alcolátra convicto, só quer se aproveitar da situação pra usar o carro de Sinah e poder beber em paz dentro de uma cabana na mata. Luned é uma garota nativa que quer trabalhar para Wycherly, que se aproveita dela até que ela desaparece. Haveria Wycherly assassinado a moça?

A série Light começa com um livro chamado Witchlight que conta a história do místico hippie dos anos 60 Thorne Blackburn, pai de Verdade Jourdemayne. Esses personagens são tidos como charlatões em plenos anos 60, 70 e 80, mas ao longo dos livros vai sendo mostrado que eles realmente carregam um sangue antigo e mágico. No final de Gravelight Verdade confirma que descobriu sua origem sidhe, um nome irlandes para um antigo povo das fadas, e revela ao seu companheiro que não é totalmente humana.

Infelizmente Marion Zimmer Bradley morreu em 1999 pouco depois de lançar Gravelight. Não sei se a obra ficou realmente completa, ou se havia planos para continuar escrevendo mais. Acho que ficaram algumas lacunas no ar: o que era realmente esse povo sidhe e como vieram a conceber Thorne Blackburn e iram parar nos Estados Unidos? Qual foi o destino da frágil e poderosa Luz, irmã de Verdade? Simplesmente casou  e teve filhos?  E a linhagem dos Ridenow? Como foi que um louco alcolátra deu origem a uma das famílias que viria a colonizar o espaço e se tornar uma das principais famílias da aristocracia darkovana?

Mistérios que ficarão por conta da nossa imaginação. Apesar disso, vale a pena!

OBS - Na verdade, acabo de descobrir que Gravelight é o livro 3 e não 4 da série. Mas o livro 4, Heartlight é escrito sob o ponto de vista de Colin, um professor da Universidade Taghkanik que estudou a obra de Thorne Blackburn. Heartlight também é muito bom, mas é como se fosse uma história paralela, os personagens apenas se cruzam, Verdade Jourdemayne aparece muito jovem... Ou seja, as perguntas também não são respondidas... Talvez a Marion fizesse isso de propósito, já que em vida, gostava muito de incentivar as pessoas a escrever. As lacunas nas histórias talvez sejam pontos de inspiração para novos escritores!