HASTUR LORD

De volta ao Flor, finalmente! Demorei pra escrever essa resenha, li o livro no começo do ano, mas as provas e atividades e outras leituras da vida me impediram de escrever sobre ele mas acho que agora sai.  Um dos livros mais interessantes da série Darkover, Hastur Lord funciona como uma espécie de ponte entre a velha Darkover da Marion Zimmer Bradley e a nova Darkover escrita por Deborah Ross. Numa ordem cronológica da série esse seria o último livro escrito pela Marion, que na verdade não chegou a ser concluído por ela. 

Hastur Lord nessa sequência cronológica darkovana pode ser lido logo após Destruidores de Mundos (World Wreckers), só que a história se passa uns dez anos depois. Um aspecto muito interessante desse livro é que ele mostra mais de perto alguns personagens que já são velhos conhecidos dos fãs da série: um Regis Hastur mais amadurecido vivendo intensamente o conflito entre a vida dedicada ao exercício do poder e os amores pouco convencionais que ele carrega na vida; Linnea Storn, com toda sua força, seriedade e dedicação ao amor que guarda por um homem que ela sabe que jamais será inteiramente dela; Danilo Syrtis,  paxman e amante de Regis desde a adolescência, dividido agora entre a lealdade a seu amor e as cobranças exigidas por sua posição social; um jovem Mikhail, ainda no dilema com sua capacidade para assumir o trono darkovano; Javanne Hastur e Francisco Ridenow, ambos pendendo lentamente para o lado negro da força. 

Hastur Lord apresenta um novo e enigmático personagem: Rinaldo Hastur, um irmão de Regis, bastardo e emmasca, que o velho Danvan Hastur havia levado, ainda bebê, para ser secretamente criado pelos monges em Nevarsin. No fim da vida do velho Danvan, naquela confusão sobre o futuro do planeta, Regis ainda sendo pressionado para casar e ter descendentes. O velho, já consciente da situação do neto, desesperado pela continuidade do poder Hastur no trono, revela a existência desse irmão perdido que havia sido levado, há muitos anos para ser criado pelos monges. (Para quem não conhece Darkover - Regis Hastur é o herdeiro do trono de todo o planeta. É o membro mais poderoso da dinastia mais poderosa do planeta, que ao longo de sua história vem perdendo sua força para a invasão dos colonos terráqueos e vem perdendo seu poder de fogo - humanos com dons telepáticos, que são mais raros a cada dia. Por razões políticas e culturais, Regis é pressionado para se casar e ter filhos. O monarca, no entanto, é homossexual. O grande amor de sua vida é seu fiel escudeiro, Danilo. Regis é um personagem muito interessante. Criado nos anos 60 - provavelmente é o primeiro personagem darkovano, pois o primeiríssimo manuscrito sobre Darkover foi A espada de Aldones, uma antiga versão de A Herança de Hastur - Regis é mais um tapa que Marion Zimmer Bradley deu na cara da sociedade machista, homofóbica e misógina. Seria possível criar um rei, um herói na verdade, homossexual, sem cair numa figura caricata, marginalizada? Sim, a genialidade da Marion torna isso possível. Regis é um herói. É um personagem apaixonante, sério, profundo, comprometido com seu povo. Ele vive um conflito que é mostrado de forma muito bonita pelas autoras, nunca ridicularizando a situação dele, mas mostrando o compromisso que o personagem tinha com sua família e com seu povo e ao mesmo tempo as formas de amor diferenciadas que ele vivia e simplesmente não podia negar ou evitar. E nem por isso ele é menos heróico, menos digno!). Linnea Storn é herdeira de um reino menor e foi namorada de Regis na adolescencia. É a única mulher com quem ele se casaria, pois ele guardava um amor por ela, diferente do que sentia por Danilo, mas ainda assim, amor. Com a morte de Danvan se aproximando, Regis se sente pressionado pela necessidade de ter filhos e então procura Linnea e a propõe em casamento. Mas Regis era honrado demais para tentar enganar Linnea. Ele explica toda a verdade para ela, de que precisa se casar por causa da pressão política e que na verdade ama a outro homem Danilo. Muito jovem e envolvida por seu contexto cultural, Linnea é incapaz de aceitar a proposta e expulsa Regis de seu castelo. Atormentado por saber que seria incapaz de viver sem Danilo, Regis resolve se livrar do trono e para isso vai atrás do irmão perdido com intuito de torná-lo o novo herdeiro. 
Concebido nos anos 90 e finalizado no começo dos anos 2000, esse livro não podia ser mais atual para o contexto brasileiro. Rinaldo Hastur é encontrado por seu irmão, retirado do mosteiro de Nervasin e é transformado em herdeiro e logo em seguida em rei darkovano. Mas Rinaldo havia vivido por trinta anos isolado em um mosteiro cristão, não estava nem um pouco preparado para se tornar rei em um mundo multicultural (terráqueos, diferentes dinastias darkovanas com diferentes costumes, aristocratas, camponeses, homens do espaço, telepatas das torres, telepatas selvagens....). Rinaldo achava que tudo era imoral, que tudo era uma ofensa ao Senhor e que o planeta deveria ser limpo dessas influências demoníacas. Ele havia sido criado a parte desse mundo e simplesmente não conseguia entender que o que para ele pareciam pecados graves, eram costumes que se construíram ao longo de centenas de anos da história do planeta.  Descobrir a condição de homossexualidade do irmão para ele foi o fim, foi algo completamente inaceitável, abominável. A moralidade de Rinaldo é tanta que sobe a cabeça, transformando ele num tirano. Mas seu único objetivo era purificar Darkover (é engraçado o quanto isso se repete ao longo da história aqui da Terra e é triste que existam pessoas que não tenham consciência disso e votam num Partido Cristão!) Rinaldo sequestra Danilo e chantageia Regis ameaçando a vida de seu amado e forçando o antigo herdeiro a se casar com uma mulher. Rinaldo sequestra crianças da cidade de Thendara e as interna numa escola de moralidade cristã, criada por ele. Contra a vontade dos pais. 
Temendo a tirania de Rinaldo, Regis e Linnea decidem que precisavam tirar sua pequena filha, Kierstelli (Kierstelli foi concebida por Regis e Linnea durante um vento fantasma em Destruidores de Mundos. O vento fantasma é um fenômeno que ocorre em Darkover durante a floração da flor de kireseth - flor com poderes lisérgicos - quando um forte vento espalha o pólen dessa flor e deixa a população, digamos, bastante feliz.) do alcance de Rinaldo. Regis foge da cidade durante a madrugada carregando sua pequena filha em um cavalo com intuito de encontrar o único povo que poderia protegê-la agora: os chieri. Essa parte do livro é interessante por fazer uma ligação com o livro anterior. Durante os Destruídores de Mundo, os chieri, povo nativo de darkover, os verdadeiros telepatas, interagem com o povo darkovano através de um personagem chieri que vai para a cidade. Agora quando Regis resolve pedir abrigo aos chieri, é dada uma dica do paradeiro desse personagem. Regis atravessa Darkover a cavalo para proteger sua filha. Seu objetivo era encontrar a misteriosa Floresta Amarela. A Floresta Amarela é uma espécie de floresta mágica que aparece apenas para os olhos de alguns. Depois de quase desistir Regis consegue um contato com um membro do povo chieri que entende a situação e leva sua pequena filha. 
Agora ele voltaria para Thendara seguro que não colocaria a vida de ninguém em risco e consciente de que precisava tomar o trono de volta para si. 




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