DOIS PARA CONQUISTAR: Marion numa antítese feminista?

As chuvas estão recomeçando aqui no Brasil. Dias de chuva sempre me remetem à leituras darkovanas, porque caminho muito, mesmo com chuva e lama e fico pensando que estou faaendo uma viagem pelas Hellers. É exatamente o que venho fazendo nessa temporada.

Na temporada de chuvas do ano passado, li Dois para Conquistar, um dos romances darkovanos menos conhecidos. É um livro que se passa na Era do Caos darkovana e o protagonista, Bard di Asturien é herdeiro da Astúria, um dos Cem Reinos. Contrapondo praticamente toda a obra da Marion Zimmer Bradley, a narrativa é contada através do olhos de um homem darkovano por nascença, mas totalmente arrogante, machista e violento. Bard não tinha um pingo da sensibilidade dos homens darkovanos e tratava as mulheres como objetos que existiam apenas para lhe dar prazer.

(Esse livro também tem uma viagem maluca do Duplo. Dá um medinho, Dois para Conquistar também tem aquele climinha espacial-fictício-fantasioso do começo dos anos oitenta. Os técnicos de matriz de uma Torre não lembro qual agora, explicam que toda forma viva tem um duplo, um ser completamente idêntico, em algum ponto equidistante do universo. E aí por aquela tecnologia de matriz maluca lá da Era do Caos eles trazem o clone do Bard di Asturien. "Coincidentemente", um terráqueo,´mas tudo bem. Achei essa história meio sinistrinha, porque o cara era um prisioneiro condenado a morte na Terra e do nada ele é teletransportado para Darkover, onde passa a viver como um princípe. Enfim. Fantasia. )

Esse lance do Bard di Asturien ser um contraponto ao forte apelo feminista da Marion é bem esclarecido pela Deborah J. Ross.  Ele era um animal mesmo, só que no final do livro ele sente de uma só vez todo o mal que ele fez a todas as mulheres que já havia maltratado e aí ele enlouquece completamente. Apesar de ser um livro narrado sob a ótica de um machão ele ainda se enquadra no universo feminista. Aliás, vi nesse livro um cenário que não vi em nenhum outro livre da série Darkover. Aquela ilha onde a Carlina se esconde e onde os dois clones vão parar no final. Uma ilha mágica, onde só mulheres podiam entrar, como se fosse a própria ilha Ávalon só que lá em Darkover. Alguém sabe se essa ilha aparece em outros romances?



O desenho ilustra o espelho da Câmara de Matriz que trás o terráqueo clone da Terra para Darkover: Bard di Asturien de um lado e Paul Harrel de outro.





Abaixo uma tradução livre dos comentários da Deborah e da Marion sobre Dois para Conquistar

"Um dos romances darkovanos da Marion menos conhecidos, Dois para Conquistar, caracteriza um inacreditavelmente contrário - não absolutamente detestável - ponto de vista de um personagem. Ele é arrogante, narcisista, manipulador, violento e sexualmente brutal. A lista de razões as quais ele mereceu o que quer que tenha vindo para ele é imensa. Vários leitores ficaram muito chateados com o livro. Marion, o que você estava fazendo, escrevendo sobre esse monstro que violenta a mente de mulheres bem como seus corpos? O que ela estava fazendo era preparando o terreno para que ele experenciasse  todas as agonias que ele havia infligido a outros. A história é tanto sobre o nascimento de empatia e reparo deerros tanto quanto é sobre luta de espadas e estratégia militar. Esse é o tipo de história que quero ler, que é também chamada de "espada e magia", "fantasia heróica" ou qualquer outra coisa.
É muito fácil construir vilões pastelões. Ao contrário da vida real, não temos que nos preocupar em desumanizar o inimigo; simplesmente os fazemos não-humanos, subhumanos, demoníacos, o que quer que seja para poder começar. Histórias curtas e secas com batalhas entre o bem o a mal são sedutoras em sua simplicidade, mas no final das contas são murchas, velhas, sem sustância.
Nós todos merecemos algo melhor. "

P. S. - É ótimo ter a Deborazona para dar um aval sobre os livros. Ela é praticamente herdeira da Marion. Escritora oficial das continuações dos romances darkovanos, Deborah J. Ross foi amiga íntima (não, acho que a Deborah não tem nada a ver com a homossexualidade da Marion. Acho que eram só amigas mesmo) da Marion Zimmer Bradley durante muitos anos. Ninguém melhor que ela pra escrever as continuações e opinar sobre a obra.

One of Marion's lesser-known Darkover novels, Two to Conquer, features an incredibly unlikeable -- nay, absolutely detestable -- viewpoint character. He's arrogant, self-serving, manipulative, violent, sexually brutal. The list of reasons why he should get whatever is coming to him is a long one. A lot of readers got very upset with the book. Marion, what were you doing, writing about this monster who rapes women's minds as well as their bodies? What she was doing was setting him up to experience the all the agonies he had inflicted on others. The story is as much about the birth of empathy and repairing of harms as it is about swordplay or military strategy. That is the kind of story I want to read, whether it is called "sword and sorcery," "heroic fantasy" or anything else.

It's all too easy to construct cardboard villains, whole races of them. Unlike real life, we don't have to worry about dehumanizing the enemy; we just make them non-human, subhuman, demonic, whatever, to begin with. Cut-and-dried good-and-evil battle lines are seductive in their simplicity, but ultimately flat, stale, without sustenance.

We all deserve better



 

Comentários

  1. A guilda das Renunciantes foi formanda pelas sacerdotisas de Avarra que habitavam essa ilha, juntamente com membros da Irmandade da Espada. Carlina é sequestrada e por fim molestada por Bard, após tal evento o castelo das Astúrias é atacado e a antiga sacerdotisa supera o fato de ter sido estuprada e passa a auxiliar os feridos (a cura era a especialidade das sacerdotisas de Avarra). Logo ela percebe que as sacerdotisas seriam mais úteis fora de sua ilha que enclausuradas lá. Após o desenrolar da trama final elas deixam a ilha para atuar em Darkover sobre a proteção da Irmandade da Espada, essa união deu origem às Renunciantes. Mas pelo que sei como a Ilha deixando de ser o lar das sacerdotisas não havia mais o porque de ser mencionada, só não me recordo se em livros anteriores há alguma menção.

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